domingo, 28 de dezembro de 2008

a pessoa errada

Pensando bem em tudo o que a gente vê e vivencia
e ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.
Existe uma pessoa que se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa faz tudo certinho!
Chega na hora certa, fala as coisas certas,
faz as coisas certas, mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça, perder a hora, morrer de amor...
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
que é pra na hora que vocês se encontrarem
a entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.
Essa pessoa vai tirar seu sono.
Essa pessoa talvez te magoe e depois te enche de mimos pedindo seu perdão.
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você.
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo, 
porque a vida não é certa.
Nada aqui é certo!
O que é certo mesmo, é que temos que viver cada momento, cada segundo, amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
querendo,conseguindo...
E só assim, é possível chegar àquele momento do dia em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo"
Quando na verdade, tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra  gente...



Luís Fernando Veríssimo

sábado, 27 de dezembro de 2008

Maldito cigarro

Ah, ela se encontrou em estado de desatino. O marido a abandonara naquele mesmo dia, deixando, em consideração aos anos que viveram juntos, apenas um bilhete, onde se podia ler em letras apressadas: “Fui embora. Depois a gente conversa. Teve que ser assim”. Quando ligou, em prantos, para sua melhor amiga, descobrira que, além de tudo, não tinha sido a primeira pessoa a saber do ocorrido. A amiga já estava a par de toda a situação: recebeu uma visita inesperada do maldito homem, que veio lhe comunicar que havia fugido e não sabia se um dia voltaria.

Ela se perguntava qual seria o motivo desta ação inesperada, mas sua mente cada vez mais se contraía, tentando espremer o líquido dos dias, saber o que de fato teria feito ela para deixar seu grande amor ir embora. Foi aí então que ela se lembrou de que um mês antes haviam discutido, por um motivo banal: o excesso de cigarro no cinzeiro. Ele sempre teve a mania de não limpa-lo após usar e ela odiava ter que tirar os tocos de cigarro, colocar no lixo, lavar... Na ocasião ele dissera que limpar o cinzeiro mostraria que ela o ama mais, que se dedica a ele, que não tem nojo do homem com que dorme todas as noites. E ela limpou mais uma vez, pensando que seria a última, mas com vontade de jogar tudo pela janela. Limpava todos os dias após o trabalho, não se cansava daquela rotina, nem ligava mais se ele estava esquecendo. Estava decidida a nunca mais brigar por um motivo tão banal.

Agora, em estado de choque, sentada na sala, rodeada de tocos, cinzas e cinzeiros cheios, com aquele cheiro da nicotina ainda impregnado no sofá, percebeu que a decisão de ir embora fora difícil, pois custara vários cigarros. Ligou para a amiga. Ela lhe contou sobre o estado do homem que batera à sua porta mais cedo para contar o que havia feito e dizer que não havia mais jeito: ele estava com a barba crescida, a roupa suja e um cheiro de bebida insuportável. Não havia contado o porquê da separação, mas aparentava estar decidido.

Ela decidiu ligar para o celular dele, mas não de casa. Desceu até a esquina da rua, encontrou um orelhão e ligou. Ele atendeu com voz de cansado, um pouco rouco, mas parecia estar sóbrio. Ao ouvir a voz dela, ascendeu um cigarro junto ao telefone, como que para mostrá-la que estava fumando. Ela pediu uma explicação, uma conversa, e ele desligou, sem dar resposta.

No outro dia, pela manhã, ao sair para trabalhar, ela encontrou embaixo da sua porta uma carta que dizia o seguinte: “Quando te pedi que limpasse meu cinzeiro há um mês atrás, pensei que fosses me alertar sobre os riscos que corro com o cigarro, me falar que amor não tem nada a ver com “limpar as minhas coisas” e lembrar-me ainda que odeia limpar cinzeiros, mas não. Tu me deixaste com a razão, mesmo eu não estando com ela, tu te calaste à minha vontade. Logo tu, que sempre impuseste as ordens, que sempre me questionou em minhas decisões e em meus conceitos sobre tudo, me deixaste ter razão quanto ao assunto que até eu assumo não ter razão. Isso foi imperdoável. Foi assim que tu me provastes que o teu amor por mim era finito, que não ligavas mais, que não te esforçavas mais para corrigir os meus erros. Demorei ainda um mês para perceber que o meu lugar não era mais ao teu lado, mas o pior é que ainda não sei onde é. Por enquanto estou perdido, mas logo encontrarei um rumo com alguém que ainda tenha senso crítico e que, acima disso, me ame.”

E foi assim que ela, ao ler a carta, percebeu que o casamento não havia acabado no dia anterior, mas sim há muito tempo atrás, pois se nem tentando acertar ela acertava, não havia mais o que ser feito. Ele fez o que ela faria uma hora ou outra.

Agora começava o tempo de seguir em frente e procurar um novo amor, mas desta vez, um não fumante, por favor. 


por: Paula Bombardelli

o teu olho

... tento fujir para longe, e a cada noite, como uma criança temendo pecados, punições de anjos vingadores com espadas flamejantes, prometo a mim mesma nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo, e escapo brusco, para que percebas que mal suporto a tua presença, veneno, veneno, ás vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te fazer compreender que não é assim, que tenho um medo cada vez maior do que vou sentindo em todos esses meses, e não se soluciona, mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e, embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizada do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu...

cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era

"(...)Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan,depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-esta-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá, até o sol pintar atrás daqueles edifícios, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ela pára e pede, preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era."

caio fernando abreu